sábado, 24 de julho de 2010

Sobre o Amor, Meu Amor...

Dedico o texto à amiga Elane, a quem me ensinou muito do amor e sobre a importância de se conhecer a si mesma até porque ela vai ficar mais velhinha hoje à meia noite!
E agradecer também a Nestor que me ajudou a amadurecer algumas idéias nessa semana passada que aqui estão contidas!
Muito amor para vocês!



Queridos Amigos Pervertidos,

Tentei escapar, estudar, mas não deu outra, tinha que escrever sobre o amor, seguindo meu escritor do coração, Rubem Alves, ele que até em um programa de televisão se abre dizendo que estava triste por uma relação amorosa que havia se rompido, o que levou ele a escrever o livro Canto dos Pássaros Encantados... Então, venho escrever para vocês amigos, por também passar por um rompimento, não vou escrever um livro, muito menos à altura do de Rubem Alves, mas quero desabafar o que venho sentindo sobre esse sentimento que venho lapidando ao longo desses tempos, ou melhor, desde a minha infância, ao assistir inúmeras vezes os desenhos de contos de fadas, me encantar com os finais hollywoodianos, as músicas que não param de tocar o mesmo tema, a mesma necessidade...

Outra coisa que me motivou mais ainda a escrever sobre o amor, foi ao lembrar das oficinas que organizei para os adolescentes, uma delas tinham o tema namorar x ficar, e a maioria deles preferia a última opção, e quando se falava de amor, era uma coisa negativa, com uma prisão, perda de tempo, que acabaria em traição, interesses, entre outros pontos negativos.

Confesso que também já guardei imagens bem negativas do amor, como por exemplo, só dizer “meu amor”, “meu isso”, “meu aquilo”, me fazia achar o quanto o amor poderia ser possessivo, egoísta, dependente. Mas, ao mesmo tempo, eu era fascinada por esse sentimento, pelas imagens que me chegavam através da mídia, para mostrar que não era só eu, percebam que até o forró mostra essa dualidade: em músicas de uma mesma banda são tocadas letras que falam de “raparigar”, traição, têm outras com letras que falam em se morrer de amor... Me atrevo a dizer que pelo o que tenho construído de amor, não é uma coisa nem outra... Na verdade, essas duas imagens que alimentamos do amor não se encaixam mais na minha realidade, para não dizer que estão certas ou erradas.

Deixa eu explicar melhor, começando do princípio e já filosofando: o que são sentimentos? E os instintos, não há nenhuma relação com os sentimentos ? Os sentimentos são instintos, mas são instintos carregados de cultura, de nossas vivências como a nossa própria criação, de como vivemos nossa infância (pode recorrer à Freud). Podemos ter os mesmos instintos, os mesmos sentimentos (que damos o mesmo nome), mas eles não são sentidos da mesma forma nas pessoas (Obrigada, Nestor, por me explicar...), em cada pessoa é sentido diferentemente...

Arnaldo Jabor, no livro Amor é Prosa, Sexo é Poesia, fala de maneira bem prática sobre como o sentimento do amor pode ser alterado : “Quando eu era jovem, nos anos 60/70, o amor era um desejo romântico, um sonho político, contra o sistema, amor da liberdade, a busca de um "desregramento dos sentidos". Depois, nos anos 80/90, foi ficando um amor de consumo, um amor de mercado, uma progressiva apropriação indébita do "outro". O ritmo do tempo acelerou o amor, o dinheiro contabilizou o amor, matando seu mistério impalpável. Hoje, temos controle, sabemos por que "amamos", temos medo de nos perder no amor e fracassar na produção...”.

A cultura em massa, alienação, nos trás hoje um modelo de amar; homem, mulher, desejo, sexo, paixão, compromisso, às vezes ficamos tão presos a esse modelo que esquecemos das outras pessoas, da família, dos amigos, dos estranhos mesmo, a humanidade, natureza... Acabamos não sabendo diferenciar amor de paixão, esse último sendo o mais puro instinto, forte, intenso, guiado por hormônios, feromônios, chama muito a atenção e até a ciência se mete a explicar.

Mas o amor, amor mesmo, esse ninguém quer dar o pitaco, ninguém se mete, é subjetivo demais, vade retro pessoas românticas! Tenho pena dos acadêmicos, artistas, poetas e outros mais que optarem por declararem esse amor, terão muito pouco ibope...

Se por um lado nós chegamos à o tachar de sentimento egoísta, possessivo, que sempre espera retorno (pois essa história de dar sem receber é meio furada...), acho que poderíamos pensar melhor e lembrarmos, que nós, enquanto humanos, animais, somos seres egoístas e possessivos: Existe alguma coisa que você faça, no seu cotidiano, sem esperar algo em troca? Mesmo que não seja algo material, algum reconhecimento, coisas simples como um sorriso, um aperto de mão ou um mero olhar? Um professor um dia me fez refletir, ele usou um exemplo simples: se eu entrasse em uma sala e as pessoas que nela estivessem, em nenhum momento me olhassem ou me percebessem e me sentiria como se não existisse, se isso fosse acontecendo em outros locais sucessivamente, eu chegaria a me perguntar minha própria existência.

Temos essa necessidade, e porque com o amor seria diferente? No livro do psicanalista Juan David Nasio, Meu corpo e suas imagens, afirma já no inicio do livro: “o desejo do homem é o desejo de se comunicar com o outro”. O amor é essa necessidade de se comunicar com o outro, é a satisfação que encontramos na doação, o que nos motiva, é o afeto.

Esclarecendo melhor sobre esse amor, um filme francês me ajudou um pouco, não pude ver qual era seu nome, mas a cena me marcou: um jovem descobrindo o amor por uma menina, é correspondido no início, mas um tempo depois ele descobre que estava sendo traído, magoado ele vai procurar o que parecia ser o seu avô ou amigo e se lamenta, que tinha raiva por ter dado tanto amor a menina que lhe havia sido ingrata e o possível avô o conforta dizendo algo como: “O amor que você deu a ela é seu, está em você, você não está perdendo nada, não há porque se lamentar porque aquilo que você dá é seu...”. Daí venho compreendendo de que quando eu falo "Meu amor" seja porque, na verdade, o tempo todo o amor foi sempre foi meu.

O que também me remeteu a música da Rita Lee: “Amor e Sexo” no trecho que diz: “Sexo vem dos outros e vai embora, amor vem de nós e demora...”. Ou seja, o amor vem de dentro de nós, fica em nós e demora, se transforma, renasce das cinzas em um novo amor, e dependendo da pessoa, ele pode ficar cada vez mais expansivo como um “coração de mãe” ou se fechar, pode saber perdoar ou não, suportar as mudanças...

O amor, diferenciando da paixão, não é intenso, é calmo, está no quotidiano, na conversa, no caminho, nos pequenos atos, espalhados entre as várias pessoas, nos objetos, nas idéias, que estão ao nosso redor, podemos amar várias pessoas, mas nunca o mesmo amor, ou você já viu uma mãe ter amor igual a cada filho que tem? Existem vários tipos de amor, e pode estar misturado à paixão ou não, pode se acabar se transformando em um novo tipo de amor ou virando ódio, esse que é um tipo de amor.

E para terminar, para a busca do caminho para o amor, esse que escolho seguir, amigos, não vejo outro, e antes de amar os outros, Sócrates, o grande pai da filosofia, revelou o segredo, que é o meu mantra: “Conhece-te a ti mesmo”...

Um comentário:

  1. Adorei o texto, muito. Principalmente porque estou passando por um processo semelhante de rompimento, coisas de noivado acabado, desilusão com as pessoas e coisas assim. Agradeço à Camila por ter me citado no texto dela, um escrever que está cada dia melhor tanto nas palavras quanto nas idéias.

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